A arte de cozinhar e o que pode fazer para torná-la mais sustentável
Com os nossos estilos de vida modernos que acrescentam cada vez mais stresse aos recursos naturais e uma população para alimentar que crescerá para quase 10 mil milhões até 2050, a gastronomia sustentável é algo que todos nós devemos ter em mente à medida que obtemos, cozinhamos e comemos os nossos alimentos. Gastronomia sustentável significa escolher e cozinhar de uma maneira que considere tudo o que é necessário para que os alimentos cheguem dos campos aos nossos pratos, incluindo como estes são cultivados e transportados até aos ingredientes que escolhemos e a quem os compramos.
Conversámos com dois chefs, que também são Embaixadores da Boa Vontade FAO, para entendermos como podemos tornar a nossa cozinha mais ecológica.
‘Recicle’ as sobras de comida – ou compre produtos reciclados.
Já deve ter ouvido falar em ‘upcycling’ de móveis e roupas – e sobre o ‘upcycling’ de alimentos? ‘Upcycling’ de alimentos significa converter produtos alimentares que normalmente seriam desperdiçados em novos produtos ou ingredientes. Para o chef Katsuhiro Nakamura, embaixador da Boa Vontade FAO para o Japão, a ideia de minimizar o desperdício é extremamente importante e é algo que sempre considera na sua cozinha.
“É possível fazer qualquer coisa com as sobras”, diz ele.
“Os ingredientes não têm qualquer custo, pois teriam sido deitados fora.” Na verdade, ele também tem explorado a ideia de ‘upcycling’.
“Há muito tempo que me pergunto como posso usar bananas inteiras, incluindo as suas cascas.”
Foi assim que criou o ‘Confit de banana’: bananas inteiras cristalizadas marinadas em açúcar durante uma semana e deixadas a secar por alguns dias. “As bananas exigem uma semana ou mais de marinada, mas ficam perfeitas. Todos os alimentos são uma bênção da natureza.”
Mas se o ‘Confit de banana’ não o convenceu, que tal utilizar pão já duro e com alguns dias? Katsuhiro comenta: “Antes, se sobrasse pão, simplesmente era deitado fora. Mas isso tornou-se inaceitável. Agora usamos para fazer pudim.” Por que não experimentar esta simples receita na próxima vez que o seu pão tiver alguns dias?
Siga os conselhos de chefs como Katsuhiro Nakamura e Rodrigo Pacheco: limite o desperdício de alimentos, compre os produtos da época ou, caso consiga,
cultive a sua própria comida. ©Pep Bonet/NOOR para FAO
Prefira produtores de alimentos que apoiam o planeta.
Até empresas de grande escala começam a constatar os benefícios de iniciativas que comercializam resíduos alimentares num produto reciclado.
Por exemplo, um conhecido produtor de chocolate substituiu o açúcar refinado por polpa de cacau. Uma proporção significativa da polpa macia e doce que envolve os grãos no fruto do cacau é tradicionalmente desperdiçada na produção de chocolate. No entanto, a nova receita tem potencial para reduzir o desperdício do fruto do cacau, ao mesmo tempo em que potencializa o sabor dos seus produtos com um adoçante natural. Outra empresa criou batatas fritas de legumes feitas a partir da polpa de frutas e legumes que sobravam depois de serem espremidos. Para cada cerca de meio quilo de polpa aproveitado, a empresa evita que 144 litros de água sejam desperdiçados.
Como consumidor, aquilo que compra pode defini-lo e tem poder! Escolher produtos reciclados e escolher produtores que gerem de forma sustentável os desperdícios aumenta a procura e as encomendas e pode incentivar outros produtores a fazerem o mesmo.
Uma relação saudável com a natureza.
O Embaixador da Boa Vontade FAO e Chef Rodrigo Pacheco é igualmente apaixonado pela gastronomia sustentável e por evitar o desperdício de alimentos. Ele gere o seu próprio restaurante em Puerto Cayo, Equador, e garante que tenta sempre ser o mais sustentável possível.
“Cozinhamos de uma forma que não sobra nada. Nós compostamos e comemos alimentos frescos”, diz ele. “Colhemos, pescamos ou usamos apenas o que precisamos”, continua, “e não temos um menu escrito, então é fácil adaptar-se aos produtos frescos do dia”.
Para este chef, cozinhar de forma sustentável é um importante critério e obrigação nos dias de hoje, ajuda as pessoas a restabelecer uma relação saudável com a natureza, defende.
“Chefs e produtores de alimentos desempenham um papel crucial no reencontro das pessoas com o meio ambiente. É nosso dever promover os produtos que melhor reflitam e possibilitem uma relação mais inteligente e sustentável com a flora do planeta”, explica Rodrigo.
Outras dicas importantes para ajudar o planeta, segundo Rodrigo, são evitar comprar mais alimentos do que precisa e apoiar os mercados de agricultores e produtores locais.
Para o chef Rodrigo Pacheco, cozinhar é uma forma de restabelecer a conexão com o meio ambiente. ©Bocavaldivia
Se conseguir, cultive aquilo que come.
Para Rodrigo, ser amigo do planeta significa também “retribuir” à natureza. “Devemos ajudar a natureza a regenerar-se, e para isso é importante dar os passos certos, plantando sementes, devolvendo à natureza”, diz ele.
Neste sentido, Rodrigo recomenda tentar cultivar os seus alimentos favoritos, algo que reduz o transporte e o embalamento dos alimentos para o mínimo! “Mesmo em espaços muito limitados, pode cultivar os seus próprios alimentos”, diz ele. Não é necessário ter um grande jardim para começar a cultivar os seus próprios vegetais – até mesmo um parapeito de uma janela é suficiente para cultivar tomates, pimentos ou ervas frescas.”
O Chef Rodrigo também sugere que cozinhe as suas refeições para reduzir o desperdício em embalagens e de plásticos. Preparar marmeladas e picles também pode ser uma ótima maneira de conservar frutas e vegetais recém-cultivados.
“Recicle, faça compostagem e devolva à sociedade e ao meio ambiente escolhendo os ingredientes certos”, diz Rodrigo.